Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer Bucal: Uma Necessidade Urgente no Brasil


Dr. Ronaldo Dias com 30 anos de experiência em palestras gratuitas firma parceria com Faculdade Anhanguera unidade Taboão da Serra para ampliar conscientização


O câncer bucal é uma das neoplasias mais comuns no Brasil,  representando um grave problema de saúde pública. Com alta incidência e mortalidade, principalmente devido ao diagnóstico tardio muitas vezes pelo despreparo do dentista, a doença demanda atenção urgente das autoridades e da sociedade civil. Uma campanha nacional de prevenção poderia ser a chave para mudar esse cenário alarmante.

A Realidade do Câncer Bucal no Brasil

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima milhares de novos casos anualmente, colocando o câncer bucal entre os tipos mais frequentes no país. Fatores como o consumo de tabaco, álcool e a exposição excessiva ao sol contribuem significativamente para esses números elevados.

A Importância do Diagnóstico Precoce

O diagnóstico precoce é crucial no combate ao câncer bucal. Quando identificada em estágios iniciais, a doença tem altas chances de cura. Sinais como feridas persistentes na boca (feridas essas, muitas vezes indolores), manchas brancas ou vermelhas e dificuldades para mastigar ou engolir devem ser investigados imediatamente.

 Impacto Econômico e Social

O tratamento do câncer bucal em estágios avançados não apenas sobrecarrega o sistema de saúde, mas também afeta profundamente a qualidade de vida dos pacientes. Muitos enfrentam desafios na reinserção no mercado de trabalho e na vida social após tratamentos invasivos, rosto mutilado e deformado inevitavelmente para a retirada do tumor.

Educação como Prevenção

Uma campanha nacional efetiva e constante deve focar na educação não apenas dos pacientes, mas também do dentista sobre fatores de risco evitáveis, como o uso de tabaco, consumo excessivo de álcool, má higiene bucal e infecção pelo HPV. Mudanças simples no estilo de vida podem reduzir significativamente o risco de desenvolvimento da doença.

O Papel dos Profissionais de Saúde

A capacitação de dentistas e médicos da atenção primária é fundamental para o sucesso de uma campanha de prevenção. Esses profissionais são a linha de frente na detecção precoce e no encaminhamento adequado dos casos suspeitos. Sem um dentista preparado e capacitado existe uma grande probabilidade de um diagnóstico tardio e o paciente chegar a óbito.

 Envolvimento da Sociedade

Ações como palestras em escolas, campanhas de check-up em feiras de saúde e iniciativas em espaços públicos são essenciais para ampliar o alcance da mensagem de prevenção. O engajamento da comunidade é crucial para o sucesso de uma campanha nacional. Além de criar na população o hábito do auto exame.

 A Parceria Inovadora

Neste contexto, destaca-se a iniciativa do Dr. Ronaldo Dias, que há mais de 30 anos realiza palestras gratuitas sobre o tema. Sua recente parceria com a Faculdade Anhanguera, unidade Taboão da Serra, promete ampliar ainda mais o alcance dessas importantes informações, que colabora muito com essa causa, mas se faz necessário uma campanha mais ampla e enfática, levando em consideração a quantidade alarmante e crescente desse câncer.

Procuramos o Dr. Ronaldo Dias, para sanar algumas dúvidas e para nos dar a oportunidade de conhecer a visão técnica e ampla, de profissional e palestrante:

Quais foram as mudanças mais significativas que o senhor observou na conscientização sobre o câncer bucal ao longo dos seus 30 anos de palestras?

Não houve mudanças significativas nos últimos 30 anos. O CRO, embora seja um órgão fiscalizador, procura divulgar material de longa data sobre a importância e a técnica do autoexame. Contudo, essa atitude isolada não é suficiente para mobilizar a sociedade como um todo. Eu realizo esse trabalho de forma isolada, produzindo meu próprio material. Não sei se outros profissionais pelo Brasil o fazem, mas gostaria de incentivar que mais dentistas também se envolvessem nessa causa. Precisamos motivar um maior número de profissionais nesse sentido, pois o problema é sério, existe e cresce a cada dia. Os dentistas precisam transformar seus pacientes em agentes multiplicadores dessa informação.

Como a parceria com a Faculdade Anhanguera irá potencializar o alcance das informações sobre prevenção do câncer bucal?

A faculdade Anhanguera unidade de Taboão da Serra é respeitável e seu apoio valida a importância da campanha. O professor Bruno, diretor da faculdade, reconheceu a relevância do problema. Com a inauguração do curso de odontologia, a faculdade considera fundamental conscientizar os alunos sobre essa questão. É essencial que os futuros dentistas compreendam a importância do diagnóstico precoce, pois são eles que desempenharão um papel crucial na detecção e, consequentemente, na salvação

 Quais são as principais barreiras que o senhor identifica para a implementação de uma campanha nacional efetiva de prevenção ao câncer bucal?

É crucial que os dentistas superem o receio de realizar biópsias em seus consultórios, um procedimento simples, porém frequentemente desconhecido. Muitos profissionais também não sabem como encaminhar adequadamente os pacientes.

Pessoalmente, mantenho contato com a central odontológica local para encaminhar casos identificados na clínica. O SUS tem a obrigação de registrar esses pacientes no CROSS, priorizando seu atendimento e direcionando-os ao primeiro centro oncológico disponível.

Recentemente, encaminhei uma paciente que ficou conhecida na Santa Casa como “a paciente que o dentista identificou o problema”. Isso chamou a atenção, pois infelizmente muitos dentistas ainda falham nesse aspecto. Atualmente, temos outro caso em andamento, com cirurgia programada para breve.

Com base em sua experiência, quais estratégias o senhor considera mais eficazes para educar a população sobre os fatores de risco do câncer bucal?

Cléo, baseado em minha experiência, o que realmente falta é um destaque maior através de uma campanha efetiva nos grandes veículos de comunicação. Muitas pessoas desconhecem a existência do câncer nessa região e suas consequências. Precisamos de uma campanha maciça, similar à do câncer de mama, que já está instituída há anos e é bastante funcional. Essa abordagem desperta a atenção da população, mostrando que o problema existe e tem solução com o diagnóstico precoce.

 Como o senhor avalia o papel das universidades na formação de profissionais de saúde capacitados para a prevenção e diagnóstico precoce do câncer bucal?

O único contato que o aluno tem com esse problema ocorre nas universidades, sem processo de reciclagem ou continuidade, caindo no esquecimento. Muitos profissionais focam exclusivamente em tratamentos convencionais como restaurações e remoção de dentes, esquecendo que o universo de lesões é amplo. Temos a obrigação de ficar atentos a isso. Muitos dentistas desconhecem os procedimentos para realizar e enviar uma biópsia, temendo complicações. É necessário que o dentista supere esse medo e, sempre que houver um tecido atípico ou anormal, remova um fragmento e o envie para análise clínica em laboratório.

Quais inovações tecnológicas o senhor acredita que podem contribuir para melhorar a detecção precoce do câncer bucal?

A melhor forma de divulgação são campanhas e vídeos. Cada dentista deveria gravar um vídeo para conscientizar seus pacientes sobre a existência e gravidade do câncer bucal, pois muitos desconhecem essa realidade. É crucial que os profissionais se informem mais e superem o medo do desconhecido, evitando omissões no diagnóstico. Mostrar as consequências e mutilações causadas pelo câncer de cabeça e pescoço alarmaria as pessoas, levando-as a se preocuparem mais. Campanhas efetivas são necessárias, similar às advertências em maços de cigarro, destacando também o cigarro como agente causal. É um apelo para que os dentistas mantenham essa preocupação ao longo de suas carreiras, não apenas durante a formação acadêmica.

Como o senhor vê a possibilidade de integração entre as ações de prevenção do câncer bucal e outras campanhas de saúde pública já existentes?

A integração de campanhas de prevenção do câncer bucal com as já existentes não apresenta dificuldades. Essa prevenção deve ser diária, utilizando a técnica do autoexame para identificar lesões. Os pacientes devem relatar quaisquer alterações ao dentista, e o Sistema Único de Saúde oferece excelentes profissionais em todo o Brasil. Os dentistas da saúde pública são geralmente mais preparados devido à maior demanda que enfrentam.

Um aumento no investimento em campanhas de prevenção do câncer bucal pelas secretarias de saúde chamaria mais atenção da população. A falta de informação é o principal problema. A participação de entidades como igrejas na divulgação da importância da prevenção e das possíveis sequelas do câncer bucal poderia ter um impacto significativo.

A iniciativa da Anhanguera em Taboão da Serra é louvável, pois enfatiza a importância do diagnóstico precoce na formação dos novos dentistas. É crucial que os profissionais não se concentrem apenas em procedimentos lucrativos, como implantes ou harmonização orofacial, mas lembrem que são “médicos da boca” e devem identificar problemas o mais cedo possível.

Qual mensagem o senhor gostaria de deixar para os profissionais de saúde e para a população em geral sobre a importância da prevenção do câncer bucal?

A mensagem principal para os profissionais de odontologia é lembrar que são “médicos da boca” e devem identificar todas as doenças possíveis. É crucial não subestimar nenhum tipo de lesão e sempre buscar fazer o melhor diagnóstico. A humildade é importante: consultar outros profissionais e trabalhar em equipe é fundamental, pois ninguém é dono da verdade.

A população precisa se preocupar com o câncer bucal, pois o problema existe e é sério. São necessárias grandes campanhas de conscientização, e a própria população deve atuar como agente multiplicador dessa informação.

Os dentistas são incentivados a gravar vídeos e falar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, não apenas divulgar procedimentos estéticos ou implantes. É essencial enfatizar a importância das consultas anuais para verificar possíveis alterações, mostrando que a odontologia é uma profissão séria e necessária para a sociedade.

O profissional deve fazer o seu melhor para atender os pacientes o quanto antes, erradicando problemas precocemente e evitando consequências mais graves. Infelizmente, já houve casos de pacientes perdidos devido à negligência profissional.

Celebridades que enfrentaram câncer bucal: Sigmund Freud (pai da psicanálise), José Roberto Burnier (jornalista da Globo), Osmar Prado (ator), Rubens Caribé (ator, falecido em 2022), Michael Douglas (ator oscarizado), Babe Ruth (lenda do beisebol), Sammy Davis Jr. (cantor e ator) e Luiz Onmura (judoca, bronze olímpico). O câncer bucal não escolhe fama ou fortuna – a detecção precoce é crucial para todos.

Por Cléo Ramos 

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